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O apagamento de escritas negras é mais uma forma de violênca

Jana Silva

A Literatura afro não é posta em termos de discussão no Brasil, o que impossibilita o conhecimento e expansão das obras de escritores negros, deixando-os sempre à margem. A escrita negra é ligada expressamente à identidade negra.

A poeta mineira Conceição Evaristo, autora do livro Olhos D’Água (2014) e ganhadora do prêmio Jabuti, cunhou o termo ‘Escrevivência’ para se referir à escrita negra, principalmente feminina, no país. Significa escrever o que te atravessa, as suas vivências. É uma proposta não só no campo literário, mas também para provocar indagações, um convite para sair da bolha. A escrita negra brasileira do passado é marcada por apagamentos, tentativas de borrar a imagem de escritores negros como o embranquecimento do grande escritor Machado de Assis e da maranhense Maria Firmina Dos Reis, a primeira romancista brasileira, autora de Úrsula (1859), um romance abolicionista.

Precisa-se evitar que essa invisibilidade chegue perto de ser aceitável novamente. A negação da existência de uma literatura negra pelo sistema literário dominante só é confirmada quando, em um país de maioria negra, não se questiona a ausência de protagonismo na tradicional e elitista Academia Brasileira de Letras (ABL) que de 40 cadeiras apenas 2 é ocupada por autores pretos. Mulheres negras, há um século de existência da academia, nunca ocuparam uma cadeira.

Reestabelecer ancestralidade e fortificar a identidade do povo afro brasileiro por meio da escrita é uma grande ferramenta de poder, num meio onde, até 2014, apenas 2,5% dos autores publicados eram não-brancos, conforme pesquisa do Grupo de Estudos de Literatura Contemporânea da Universidade de Brasília (UnB). Assim, homens e mulheres negras representando a nova geração com conteúdos literários riquíssimos, expressando as suas subjetividades ignoradas cotidianamente num país racista, é um ato de resistência.